Exploração de Falhas em Aplicativos de Delivery: Riscos e Como se Proteger
ATUALIZAÇÕESVULNERABILIDADESVAZAMENTOSCIBERSEGURANÇA
Ricardo Gonçalves
5/23/20258 min read


1. Introdução
Os aplicativos de delivery, que usamos para pedir comida, fazer compras e contratar serviços, se tornaram parte essencial do nosso dia a dia. Eles oferecem praticidade e agilidade, mas também estão expostos a falhas de segurança. Essas falhas podem permitir que cibercriminosos roubem informações pessoais, dados financeiros ou até mesmo alterem pedidos sem autorização.
Neste artigo, vamos explicar de forma simples como essas falhas podem ser exploradas, quais são os riscos para os usuários e para as empresas, e quais medidas podem ser adotadas para proteger esses aplicativos. Usaremos exemplos práticos e comparações para que qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento técnico aprofundado, consiga compreender os principais pontos e a importância de ter um sistema seguro.
Baseamos nossa explicação em conceitos reconhecidos internacionalmente – como os do OWASP Top Ten – e em dicas e orientações publicadas por fontes especializadas, como os guias do NoBug e da F5, além de estudos e cases divulgados tanto nos Estados Unidos e na Europa como no Brasil.
2. Como Funcionam os Aplicativos de Delivery
Para entender onde podem ocorrer os problemas, é bom saber como esses aplicativos funcionam:
Interface do Aplicativo: É a parte que você vê no seu celular ou computador. Nela, você navega pelo cardápio, faz pedidos e acompanha a entrega.
Comunicação com Servidores (APIs): Por trás da interface, há sistemas (servidores) que guardam e processam todas as informações dos pedidos. As APIs são como “portas” que permitem que o aplicativo se comunique com esses servidores.
Pagamentos e Dados Financeiros: Quando você paga, o aplicativo se conecta a bancos ou sistemas de pagamento. Essa parte lida com informações muito sensíveis, como dados do cartão de crédito.
Rastreamento de Entregas: Sistemas de logística acompanham onde os entregadores estão para otimizar as rotas e garantir que o pedido chegue no tempo previsto.
Cada uma dessas etapas representa um ponto onde pode haver uma falha de segurança, caso as medidas de proteção não sejam suficientes.
3. Principais Falhas que Podem ser Exploradas
A seguir, explicamos as falhas mais comuns, usando exemplos simples:
3.1 Falhas na Identificação e Permissão de Acesso
O que é isso? Quando você faz login, o aplicativo deve ter um sistema seguro para garantir que realmente é você, utilizando senhas, tokens (código temporário) e, às vezes, autenticação em duas etapas.
Exemplo: Imagine que o sistema use um token que nunca expira. Se alguém roubar esse token, pode acessar sua conta e fazer pedidos ou ver suas informações.
Riscos:
Um invasor pode utilizar seu perfil para acessar ou alterar pedidos.
Dados pessoais podem ser expostos.
3.2 Falhas na Validação dos Dados (Injeção de Código)
O que é isso? Se o aplicativo não verifica bem o que você digita (por exemplo, em campos de pesquisa ou formulários), um invasor pode inserir comandos especiais que o sistema acabe executando.
Exemplo: Em vez de digitar “pizza” no campo de busca, alguém insere um comando estranho que, se não for bloqueado, pode fazer com que o sistema revele informações que deveria manter em segredo.
Riscos:
Um atacante pode puxar ou modificar dados importantes.
Pode ocorrer o acesso indevido a informações de outros usuários.
3.3 Falhas na Proteção dos Dados
O que é isso? Após fazer um pedido, suas informações – como nome, endereço e dados de pagamento – são armazenadas nos servidores ou no próprio celular. Se esses dados não forem criptografados (ou “embaralhados”), podem ser facilmente lidos por quem não deveria.
Exemplo: É como guardar dinheiro na carteira sem fechá-la. Se alguém pegar sua carteira, pode ver tudo que está dentro.
Riscos:
Vazamento de dados, caso o dispositivo seja roubado ou o sistema seja atacado.
Risco de fraudes e roubo de identidade
3.4 Falhas na Proteção das “Portas de Acesso” (APIs)
O que é isso? APIs são portas que conectam o aplicativo ao servidor. Se essas portas não estiverem bem protegidas, um invasor pode “abrir a porta” e acessar informações importantes sem autorização.
Exemplo: Imagine uma porta sem fechadura; qualquer um pode entrar. Nas APIs, se não houver controle, qualquer pessoa pode tentar acessar ou modificar dados.
Riscos:
Exposição de informações dos pedidos e de usuários.
Possibilidade de modificação de dados, como cancelar pedidos ou alterar preços.
3.5 Configurações Padrão e Erros Simples
O que é isso? Muitos aplicativos vêm com configurações padrões que não são seguras. Se os desenvolvedores não ajustarem essas configurações, podem deixar “portas abertas” para ataques.
Exemplo: É como se uma empresa de aluguel de carros entregasse os veículos com as chaves para qualquer pessoa. Se todo mundo tem acesso, o risco de furto aumenta.
Riscos:
Acesso não autorizado devido a definições de segurança fracas.
Maior possibilidade de ataques, pois falhas são exploradas repetidamente se não forem corrigidas.
3.6 Problemas em WebViews
O que é isso? Alguns aplicativos usam “WebViews” (janelas que mostram páginas da internet dentro do app) para integrar conteúdo da web. Se essas áreas não forem bem protegidas, códigos maliciosos podem ser injetados.
Exemplo: Pense numa janela sem vidro protetor, onde alguém pode jogar objetos dentro da sua casa. Se o WebView não tiver proteção, pode ser usado para roubar suas informações.
Riscos:
Roubo de dados ou captura de informações da sessão.
Redirecionamento para sites falsos (phishing).
4. Casos Reais e Exemplos na Mídia
Agora, vamos ver alguns exemplos práticos (reais ou demonstrados) para entender melhor como essas falhas afetam os aplicativos de delivery.
4.1 Caso Internacional: Demonstração de Vulnerabilidades em Conferências
Em uma conferência de segurança importante, realizada nos Estados Unidos (OWASP Global AppSec), pesquisadores demonstraram como uma falha nas “portas de acesso” (APIs) poderia permitir que informações de pedidos e dados pessoais fossem acessados sem autorização.
Lições retiradas:
A importância de validar corretamente os dados nas APIs.
O uso de tokens com tempo de expiração bem definido para limitar o acesso.
4.2 Caso Europeu: Problemas com WebViews
Durante um evento de segurança na Europa, especialistas mostraram como um aplicativo de delivery popular usava WebViews sem as devidas proteções.
O que ocorreu:
Os pesquisadores conseguiram injetar um código que capturava cookies e dados da sessão do usuário.
Lição:
Corrigir a forma como as WebViews são configuradas e aplicar políticas de segurança que impeçam a execução de código não autorizado.
4.3 Caso Nacional: Aplicativos Brasileiros na Mira de Pesquisas Éticas
Embora os detalhes completos muitas vezes não sejam divulgados publicamente por questões de segurança, vários programas de bug bounty (recompensa por encontrar falhas) em aplicativos de delivery no Brasil revelaram problemas como:
Tokens de acesso que permaneciam ativos por muito tempo: Permitindo que invasores recuperassem contas de usuários.
Armazenamento inseguro de dados sensíveis em dispositivos móveis: Aumentando o risco de vazamentos se o aparelho fosse perdido ou hackeado.
Esses relatos, frequentemente mencionados em sites de tecnologia e segurança, reforçam a necessidade de atualizar continuamente as medidas de proteção e estar alinhado com as melhores práticas internacionais.
5. Como se Proteger: Medidas e Estratégias
A seguir, apresentamos ações que podem ser adotadas para proteger os aplicativos de delivery, explicadas de forma simples:
5.1 Escrevendo Códigos com Segurança (Secure Coding)
Validação dos Dados: Tudo que o usuário digita deve ser verificado para garantir que não há comandos maliciosos.
Uso de Consultas Seguras: Quando o aplicativo conversa com o banco de dados, ele deve ser programado para evitar que comandos errados sejam executados.
Revisão do Código: Desenvolvedores precisam revisar e corrigir erros no código, assim como revisamos um texto antes de publicá-lo.
5.2 Realizando Testes e Simulações (Pentest)
Testes Automatizados: Ferramentas podem “escaneiar” o aplicativo em busca de falhas.
Testes Manuais e Simulações: Equipes de segurança "atacam" o sistema de forma controlada para identificar fraquezas.
Exercícios de Simulação: Simular ataques, como phishing, ajuda a preparar a equipe e a melhorar os sistemas.
5.3 Protegendo as Portas de Acesso (APIs)
Autenticação Forte: Utilizar senhas, códigos enviados por SMS (ou autenticação multifator) para garantir que só o dono da conta acesse.
Limitar Acessos: Definir um número máximo de requisições para evitar abusos.
Monitoramento Contínuo: Usar ferramentas que alertam quando algo suspeito acontece nas APIs.
5.4 Protegendo os Dados (Criptografia)
Criptografia: É como “embaralhar” os dados para que, mesmo se alguém os roubar, não consiga entendê-los sem a chave para decifrá-los.
Proteção em Repouso e Durante a Transmissão: Dados devem ser criptografados tanto quando estão armazenados quanto quando estão sendo enviados pela internet.
5.5 Ajustando Configurações e Monitorando Atividades
Hardening dos Sistemas: Alterar as configurações padrão (como trocar a fechadura da casa) para tornar o sistema mais seguro.
Princípio do Menor Acesso: Permitir que apenas quem realmente precisa acesse certas informações.
Monitoramento em Tempo Real: Usar sistemas que acompanham continuamente o que acontece no aplicativo para identificar e resolver problemas rapidamente.
5.6 Treinamento e Conscientização
Capacitar Equipes de Desenvolvimento: Cursos e treinamentos ajudam os desenvolvedores a aprender e aplicar melhores práticas de segurança.
Educar os Usuários: Mostrar como identificar e-mails suspeitos e a importância de senhas fortes.
Campanhas Informativas: Vídeos, manuais e infográficos podem ajudar a disseminar a cultura de segurança dentro da empresa.
5.7 Integrando Segurança em Todas as Etapas (DevSecOps)
Planejamento com Segurança: A segurança deve ser pensada já no design do aplicativo, não só depois que ele está pronto.
Testes Contínuos: Automatizar testes de segurança no processo de desenvolvimento garante que as falhas sejam encontradas e corrigidas antes de o aplicativo ser lançado.
6. Boas Práticas e Orientações para o Futuro
Para manter os aplicativos de delivery seguros, as empresas devem adotar uma cultura de melhoria contínua:
Participar de Comunidades de Segurança: Grupos como os do OWASP ajudam a trocar experiências e aprender com outros profissionais.
Seguir Normas e Padrões Internacionais: Diretrizes do NIST, OWASP e F5 ajudam a estabelecer boas práticas de segurança.
Investir em Ferramentas de Automação: Automatizar testes e atualizações torna a detecção de problemas mais rápida.
Revisar e Atualizar Constantemente: Manter o sistema e as bibliotecas sempre atualizados evita que vulnerabilidades conhecidas sejam exploradas.
Criar uma Cultura de Segurança: Incentivar todos os envolvidos – desenvolvedores e usuários – a pensar sempre na segurança.
7. Conclusão
Os aplicativos de delivery revolucionaram a maneira como fazemos pedidos, mas também aumentaram os desafios de segurança digital. Falhas em diversas partes do sistema – desde o login à forma como os dados são guardados e transmitidos – podem ser exploradas por invasores. Se não forem corrigidas, essas falhas podem levar ao roubo de informações pessoais e financeiros, prejudicando a confiança dos usuários e a reputação das empresas.
Casos demonstrados em conferências internacionais e relatos de vulnerabilidades, tanto nos Estados Unidos e na Europa quanto no Brasil, mostram que os riscos são reais. No entanto, existem muitas medidas que podem ser adotadas para proteger esses sistemas. Medidas simples, como validar os dados que entram e sair, usar criptografia para “embaralhar” as informações, ajustar configurações padrões e treinar tanto os desenvolvedores quanto os usuários, podem fazer toda a diferença.
Em resumo, proteger os aplicativos de delivery exige uma abordagem integrada: usar tecnologias de ponta, seguir boas práticas de desenvolvimento e, acima de tudo, promover uma cultura de segurança. Ao transformar cada vulnerabilidade identificada em uma oportunidade para melhorar, podemos garantir que esses aplicativos continuem trazendo praticidade sem comprometer a segurança dos dados.
8. Referências
Detectando e mitigando as 6 vulnerabilidades mais comuns em aplicações web – Redbelt Security URL: https://www.redbelt.com.br/blog/detectando-e-mitigando-as-6-vulnerabilidades-mais-comuns-em-aplicacoes-web/
Mitigação de Vulnerabilidades: Guia Prático para Desenvolvedores – NoBug URL: https://nobug.com.br/mitigacao-de-vulnerabilidades/
Mitigação e Gerenciamento de Vulnerabilidades de Segurança de Aplicações – F5 URL: https://www.f5.com/pt_br/resources/solution-guides/application-security-vulnerability-management-solution-overview
OWASP Top Ten – OWASP Foundation URL: https://owasp.org/www-project-top-ten/
As 10 principais vulnerabilidades críticas em aplicativos da Web destacadas pela OWASP – WeLiveSecurity URL: https://www.welivesecurity.com/pt/vulnerabilidades/as-10-principais-vulnerabilidades-criticas-em-aplicativos-da-web-destacadas-pela-owasp/
Exploring Application Security Case Studies: Insights and Analysis – CERTAURI URL: https://www.certauri.com/exploring-application-security-case-studies-insights-and-analysis/
Understanding OWASP Mobile Top 10 Risks with Real-world Cases – Appinventiv URL: https://appinventiv.com/blog/owasp-mobile-top-10-real-world-cases/
Akamai Research: Web Attacks Targeting Applications and APIs Up by 49% in the Last Year – Akamai Newsroom URL: https://www.akamai.com/newsroom/press-release/web-attacks-targeting-applications-and-apis-up-by-49-in-the-last-year
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