Do Caos à Calma: Como um Plano de Resposta a Incidentes Pode Salvar sua Empresa.
Em um cenário de ciberameaças constantes, a ausência de um plano pode transformar um simples incidente em uma crise catastrófica para sua PME. Este guia prático desmistifica a criação de um Plano de Resposta a Incidentes (PRI). Aprenda a estruturar uma equipe, definir ações claras para detecção, contenção e recuperação, e a transformar o caos de um ataque em um processo gerenciado e calmo. Proteger seu negócio é mais acessível do que você imagina e começa com a preparação correta. Palavras-chave: Plano de Resposta a Incidentes, Segurança para PMEs, Gestão de Crises Cibernéticas, Recuperação de Desastres, Cibersegurança Empresarial
TUTORIAISDICAS E CURIOSIDADESCIBERSEGURANÇA
Ricardo Gonçalves
11/11/202516 min read


Introdução
A segunda-feira na Alfa Inovações começou como qualquer outra. Cafés eram servidos, e-mails eram abertos e o som suave dos teclados preenchia o escritório. Às 9h45, esse som parou. Primeiro, foi o computador de um funcionário do financeiro. Uma janela pop-up bizarra, exigindo um pagamento em criptomoedas para "liberar seus arquivos". Logo depois, um segundo alerta, vindo do setor de vendas. Em menos de dez minutos, a tela vermelha com um cadeado e um cronômetro тиктакающий se espalhou por quase todos os terminais da empresa. Os servidores principais, incluindo o sistema de faturamento e o banco de dados de clientes, estavam inacessíveis. O caos estava instalado.
O CEO, pálido, corria de uma mesa para outra, sem saber a quem recorrer. A equipe de TI, composta por um único analista sobrecarregado, tentava desesperadamente desconectar cabos, mas o dano já estava feito. O pânico era palpável: "Pagamos o resgate?", "Desligamos tudo?", "Avisamos os clientes?", "E a LGPD?". Ninguém tinha as respostas. Cada decisão era um tiro no escuro, impulsionado pelo medo. A Alfa Inovações, uma empresa próspera e em crescimento, estava paralisada, sangrando financeiramente a cada minuto e, pior, sem a menor ideia de como estancar a hemorragia.
Essa cena, infelizmente, não é uma ficção distante para milhares de pequenas e médias empresas (PMEs) ao redor do mundo. É uma realidade brutal. Agora, imagine um cenário alternativo. No momento em que o primeiro alerta surgiu, um documento foi aberto. Um líder designado acionou um grupo de comunicação de emergência. Em minutos, cada pessoa sabia seu papel: o analista de TI começou a isolar os sistemas afetados seguindo um checklist, a gerente de comunicação preparou uma nota interna tranquilizando os funcionários, e o diretor acionou o suporte jurídico e de cibersegurança. O medo ainda existia, mas o caos deu lugar a um processo. A crise estava sendo gerenciada.
Essa diferença monumental entre o pânico paralisante e uma ação coordenada tem um nome: Plano de Resposta a Incidentes (PRI). Longe de ser um documento burocrático e complexo reservado para corporações gigantes, um PRI é, em sua essência, um mapa. É o guia que sua empresa seguirá quando se encontrar perdida na floresta escura de um ciberataque.
O objetivo deste artigo é exatamente este: fornecer a você, gestor de uma PME, um modelo prático e acessível para construir seu primeiro PRI, transformando a reatividade desesperada em uma resposta calma, controlada e, acima de tudo, eficaz.
Por que Ignorar a Preparação Não é uma Opção para PMEs?
A mentalidade do "isso não vai acontecer comigo" é um luxo que nenhuma empresa, independentemente do seu tamanho, pode mais se permitir. Cibercriminosos não discriminam; na verdade, as PMEs são alvos cada vez mais atraentes justamente por sua percepção de menor preparo e recursos de segurança mais limitados. Ignorar a necessidade de preparação não é apenas uma aposta arriscada; é uma decisão estratégica com consequências potencialmente devastadoras.
O Custo Real de um Incidente: Além do Prejuízo Financeiro
Quando pensamos no custo de um ciberataque, a primeira imagem que vem à mente é a do resgate a ser pago ou do prejuízo direto pela interrupção das vendas. Contudo, essa é apenas a ponta do iceberg. O verdadeiro custo de um incidente se aprofunda em camadas que afetam a própria sustentabilidade do negócio. A perda de reputação é uma das mais danosas. Um cliente que confia seus dados à sua empresa espera que eles sejam protegidos. Uma falha nessa proteção, especialmente se mal gerenciada publicamente, pode quebrar essa confiança de forma irreparável. Recuperar a credibilidade no mercado é um processo lento, caro e, por vezes, impossível.
Além disso, há o custo da interrupção dos negócios. Relatórios de mercado indicam que o tempo médio de inatividade após um ataque de ransomware pode se estender por dias ou até semanas. Para uma PME, isso significa não apenas a perda de receita, mas também a incapacidade de pagar fornecedores, processar a folha de pagamento e cumprir contratos, gerando um efeito cascata que pode levar à insolvência. Somam-se a isso os custos regulatórios, as potenciais multas e o impacto devastador na moral da equipe, que pode se sentir desmotivada e insegura, resultando em perda de talentos valiosos.
A Diferença Crucial entre Reação e Resposta
No calor de uma crise, a linha entre "reação" e "resposta" define o resultado. A reação é instintiva, impulsiva e desordenada. É o equivalente a correr em círculos durante um incêndio. Em um contexto de cibersegurança, a reação se manifesta em ações como desligar servidores aleatoriamente (o que pode destruir evidências cruciais para a investigação), formatar máquinas infectadas sem entender a origem do ataque (garantindo que ele aconteça novamente) ou comunicar-se de forma apressada e imprecisa com clientes e parceiros, amplificando o pânico.
A resposta, por outro lado, é estratégica, coordenada e deliberada. Ela é guiada por um plano previamente estabelecido. Em vez de caos, há um procedimento. A resposta significa que, em vez de adivinhar o que fazer, a equipe segue um conjunto de ações premeditadas, projetadas para conter o dano, erradicar a ameaça e restaurar a operação da forma mais segura e eficiente possível. Um Plano de Resposta a Incidentes é o documento que transforma uma reação potencialmente catastrófica em uma resposta gerenciada.
Obrigações Legais e de Conformidade (LGPD)
No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) adiciona uma camada crítica de responsabilidade. A lei é clara: em caso de um incidente de segurança que possa acarretar risco ou dano relevante aos titulares dos dados, a empresa tem a obrigação de notificar tanto a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) quanto os próprios titulares afetados em um prazo razoável. A ausência de um Plano de Resposta a Incidentes torna quase impossível cumprir essa exigência de forma adequada.
Sem um processo definido, como sua empresa saberá quais dados foram afetados, quantos titulares foram expostos e qual o nível de risco envolvido? Como garantirá que a notificação seja feita dentro do prazo e com as informações corretas? Um PRI bem estruturado inclui procedimentos para a avaliação do impacto de um vazamento e para a comunicação com as autoridades e o público. Demonstrar que sua empresa possuía um plano e o seguiu pode, inclusive, ser um fator atenuante na aplicação de sanções pela ANPD, provando que a organização agiu com a devida diligência para proteger os dados e mitigar os danos.
Os 6 Pilares de um Plano de Resposta a Incidentes Eficaz
Um Plano de Resposta a Incidentes robusto não é criado no vácuo. Ele se baseia em um ciclo de vida reconhecido internacionalmente, inspirado em frameworks como os do SANS Institute e do NIST (National Institute of Standards and Technology). Compreender essas seis fases é fundamental para construir um plano que realmente funcione na prática. Elas representam um ciclo contínuo que vai da preparação antes de um ataque até o aprendizado após sua resolução.
1. Preparação: A Base para a Calma
Esta é, sem dúvida, a fase mais importante, e é a única que ocorre inteiramente antes de um incidente. A qualidade da sua preparação ditará o sucesso de todas as fases seguintes. A preparação envolve ter as ferramentas, os processos e as informações corretas no lugar, prontos para serem usados. Isso inclui um inventário detalhado de todos os ativos de tecnologia da empresa: servidores, desktops, laptops, dispositivos de rede e, crucialmente, os softwares e os dados que eles contêm. Você não pode proteger o que não sabe que tem.
Além do inventário, a preparação exige a implementação de controles de segurança essenciais. Estamos falando de ter um sistema de backups robusto e testado regularmente, soluções de antivírus e antimalware atualizadas em todos os terminais, firewalls bem configurados e, idealmente, o uso de autenticação multifator (MFA) em todos os serviços críticos. É também nesta fase que o próprio PRI é escrito, a equipe de resposta é designada e treinada, e os recursos necessários (como softwares de análise ou contatos de especialistas externos) são definidos.
2. Detecção e Análise: Soando o Alarme Corretamente
Um incidente não pode ser respondido se não for detectado. Esta fase foca em identificar a ocorrência de um evento de segurança. Os sinais podem ser óbvios, como a tela de ransomware, ou extremamente sutis, como uma leve lentidão na rede, picos incomuns de atividade de processamento em um servidor durante a madrugada, ou um funcionário relatando um e-mail estranho que ele clicou. É vital criar uma cultura onde os funcionários se sintam seguros para reportar qualquer atividade suspeita, por menor que pareça.
Uma vez que um alerta é gerado, a etapa de análise começa. O objetivo é confirmar se o evento é de fato um incidente de segurança e, em caso afirmativo, determinar seu escopo e gravidade inicial. É um único computador infectado ou a ameaça já se espalhou? A atividade suspeita é um falso positivo do antivírus ou uma intrusão real? Uma análise correta evita reações exageradas a eventos benignos e, ao mesmo tempo, garante que incidentes reais recebam a urgência necessária. Ferramentas de monitoramento de logs e sistemas de detecção de intrusão podem automatizar parte desse processo, mas a análise humana continua sendo insubstituível.
3. Contenção: Limitando a Extensão do Dano
Confirmado o incidente, a prioridade máxima muda para limitar o estrago. A contenção visa isolar o problema e impedir que ele se espalhe para outras partes da rede. Imagine um vazamento de água em sua casa; a primeira coisa a fazer é fechar o registro principal. A contenção em cibersegurança segue o mesmo princípio. As estratégias podem variar. A contenção de curto prazo pode ser tão simples quanto desconectar o cabo de rede de um computador infectado ou desativar temporariamente uma conta de usuário que foi comprometida.
A contenção de longo prazo pode envolver a aplicação de regras temporárias no firewall para isolar um segmento inteiro da rede ou a reconstrução de sistemas em um ambiente de "quarentena" antes de reconectá-los à rede principal. O objetivo é ganhar tempo para a próxima fase (erradicação) sem permitir que o invasor avance, cause mais danos ou roube mais informações. Uma contenção bem-sucedida é o que impede que um pequeno incêndio se transforme em uma catástrofe que consome toda a floresta.
4. Erradicação: Removendo a Ameaça da Raiz
Com o incidente contido, a próxima etapa é eliminar completamente a ameaça do ambiente. Não basta apenas remover o malware visível. A erradicação eficaz exige a identificação da causa raiz do incidente. Como o invasor entrou? Foi através de um e-mail de phishing? Uma vulnerabilidade em um software desatualizado? Uma senha fraca? Sem encontrar e fechar essa porta de entrada, a ameaça certamente retornará.
Esta fase pode envolver a remoção de malwares, a aplicação de patches de segurança, a redefinição de todas as senhas em contas potencialmente comprometidas e o fortalecimento das configurações de segurança nos sistemas afetados. Em casos graves, a erradicação pode exigir a formatação completa e a reconstrução de servidores a partir de um estado "limpo" e conhecido. É um processo metódico que visa garantir que, quando os sistemas voltarem à operação, eles estejam livres de qualquer componente malicioso e não mais vulneráveis ao mesmo vetor de ataque.
5. Recuperação: Voltando à Normalidade com Segurança
Após a erradicação, a fase de recuperação foca em restaurar os sistemas e dados afetados e trazê-los de volta à operação normal. A palavra-chave aqui é "com segurança". A pressa para voltar ao negócio não pode comprometer a integridade do ambiente. O processo geralmente começa com a restauração de dados a partir dos backups seguros que foram definidos na fase de preparação. É crucial usar backups que foram feitos antes do incidente ocorrer.
Antes de colocar os sistemas "no ar" novamente, eles devem ser testados e monitorados de perto. A equipe de resposta precisa validar que eles estão funcionando como esperado e que não há sinais de atividade maliciosa remanescente. A recuperação pode ser feita em fases, trazendo os serviços mais críticos de volta primeiro, seguido pelos menos essenciais. Uma comunicação clara com os stakeholders (funcionários, clientes, parceiros) durante esta fase é vital para gerenciar as expectativas.
6. Pós-Incidente (Lições Aprendidas): O Ciclo de Melhoria Contínua
Muitas empresas cometem o erro de considerar o trabalho terminado assim que a operação é restaurada. No entanto, a fase pós-incidente é talvez a que gera mais valor a longo prazo. É o momento de reunir toda a equipe de resposta e realizar uma reunião de "lições aprendidas". O que funcionou bem no nosso plano? Onde encontramos dificuldades? Nossos checklists foram úteis? A comunicação fluiu como esperado?
Todo o incidente, desde a detecção até a recuperação, deve ser documentado em um relatório final. Este relatório não serve para apontar culpados, mas para identificar falhas no processo, nas ferramentas ou nos controles de segurança. As descobertas desta análise são então usadas para fortalecer o ambiente e, crucialmente, para atualizar o Plano de Resposta a Incidentes. Esse ciclo de feedback transforma uma crise dolorosa em uma oportunidade de aprendizado e fortalecimento, garantindo que a empresa esteja ainda mais preparada para o futuro.
Montando sua Equipe de Resposta a Incidentes (CIRT): Um Modelo para PMEs
A ideia de uma "Equipe de Resposta a Incidentes de Segurança Computacional" (CIRT, do inglês) pode soar como algo reservado a grandes corporações com equipes de segurança dedicadas. No entanto, para uma PME, o conceito é menos sobre criar novos cargos e mais sobre atribuir responsabilidades claras. A eficácia de uma resposta não depende do número de pessoas envolvidas, mas da clareza com que cada uma entende seu papel no momento da crise.
Definindo Papéis, Não Apenas Pessoas
Em uma empresa com 20, 50 ou 100 funcionários, é perfeitamente normal e esperado que uma única pessoa acumule vários papéis. O gerente de marketing pode também ser o responsável pela comunicação de crise. O diretor financeiro pode ser o ponto de contato para decisões de negócio e para o jurídico. O importante não é ter uma pessoa para cada função, mas garantir que cada função seja atribuída a alguém. O Plano de Resposta a Incidentes deve listar explicitamente quem é responsável por cada função-chave. Isso elimina a hesitação e a confusão quando o alarme soa.
Quem Precisa Estar na Equipe (Mesmo que Informalmente)?
Pense nos seguintes papéis como chapéus que precisam ser usados durante um incidente. O PRI deve dizer quem usa qual chapéu.
Líder do Incidente: Esta é a pessoa com a autoridade final para tomar decisões durante a crise. Ela coordena todos os esforços, gerencia os recursos e atua como o ponto central de comando. Em uma PME, este papel é frequentemente assumido pelo dono da empresa, um diretor ou o gestor de TI.
Técnico Principal: Este é o indivíduo ou grupo com o conhecimento técnico para analisar o incidente, conter a ameaça e executar os procedimentos de erradicação e recuperação. Pode ser o analista de TI interno, um provedor de serviços de TI gerenciado (MSP) ou um consultor de cibersegurança externo que é acionado.
Comunicação: Esta função é responsável por gerenciar toda a comunicação relacionada ao incidente. Isso inclui manter os funcionários informados, preparar declarações para clientes e parceiros e, se necessário, lidar com a imprensa. O objetivo é garantir uma mensagem consistente, transparente e calma.
Gestão/Diretoria: Um representante da alta gestão precisa estar no circuito para aprovar decisões de negócio críticas que podem surgir, como o custo de acionar um suporte especializado, o impacto de manter um sistema offline por mais tempo ou a decisão de notificar publicamente os clientes.
Jurídico/RH: Esta função é vital para navegar pelas complexidades legais e de conformidade. O jurídico aconselha sobre as obrigações da LGPD e outras regulamentações, enquanto o RH lida com quaisquer questões disciplinares que possam surgir, por exemplo, se o incidente foi causado por uma negligência grave de um funcionário. Em uma PME, isso pode ser um advogado externo ou um consultor de RH que é mantido sob contrato.
Construindo seu Primeiro PRI: Um Modelo Prático em 4 Passos
Com os conceitos fundamentais estabelecidos, é hora de colocar a mão na massa. Construir seu primeiro Plano de Resposta a Incidentes não precisa ser uma tarefa monumental. Comece de forma simples e focada. Aqui está um processo de quatro passos para criar uma primeira versão funcional do seu plano.
Passo 1: Defina o que é um Incidente para a sua Empresa
Nem todo evento de segurança tem o mesmo impacto. Um único computador com um adware (software de propaganda) é um problema, mas não é uma crise existencial. O servidor de banco de dados de clientes criptografado por ransomware, por outro lado, é. Seu plano precisa de uma forma simples de classificar a gravidade dos incidentes para que a resposta seja proporcional. Crie uma matriz de classificação simples. Por exemplo:
Nível Baixo (Verde): Impacto mínimo, afetando um único usuário ou sistema não crítico. Ex: Detecção de adware, tentativa de phishing bloqueada. Ação: O suporte de TI resolve sem precisar escalar.
Nível Médio (Amarelo): Impacto moderado, afetando múltiplos usuários ou um sistema de negócio importante. Ex: Vírus em um servidor de arquivos departamental, indisponibilidade de um serviço interno. Ação: O Líder do Incidente e o Técnico Principal são notificados. A equipe de resposta é colocada em alerta.
Nível Alto (Vermelho): Impacto crítico, ameaçando a operação de todo o negócio, a segurança dos dados de clientes ou a reputação da empresa. Ex: Ataque de ransomware, vazamento de dados confirmado, comprometimento do servidor de e-mail. Ação: Acionamento imediato de toda a equipe de resposta, incluindo gestão e jurídico.
Passo 2: Crie os Canais de Comunicação de Crise
O que acontece se o seu sistema de e-mail ou o Microsoft Teams/Slack for o alvo do ataque e ficar indisponível? A comunicação para, e a resposta desmorona. Seu PRI deve definir canais de comunicação "fora de banda" (out-of-band), ou seja, que não dependam da sua infraestrutura principal. Uma solução simples e eficaz é criar um grupo seguro em um aplicativo como WhatsApp ou Signal, dedicado exclusivamente à comunicação da equipe de resposta a incidentes. Além disso, mantenha uma lista de contatos de emergência (com nomes, funções, telefones e e-mails alternativos) impressa e guardada em um local seguro e acessível.
Passo 3: Desenvolva "Playbooks" para Cenários Comuns
Um "playbook" é simplesmente um checklist passo a passo, um procedimento padrão para um tipo específico de incidente. Em vez de um documento genérico, ele oferece instruções diretas para os cenários mais prováveis que sua empresa pode enfrentar. Comece com dois dos mais comuns: Ransomware e Phishing bem-sucedido.
Exemplo de Playbook - Ransomware Detectado:
Ação Imediata: Isolar o sistema afetado da rede (desconectar o cabo de rede). NÃO desligar o equipamento (pode destruir chaves de criptografia voláteis).
Notificação: Notificar imediatamente o Líder do Incidente e o Técnico Principal pelo canal de crise.
Análise: O Técnico Principal determina o tipo de ransomware e o escopo da infecção.
Contenção: Verificar se outros sistemas foram afetados. Bloquear a comunicação do malware no firewall.
Comunicação: O Líder do Incidente aciona o restante da equipe CIRT conforme a classificação do incidente.
Erradicação e Recuperação: Acionar o plano de restauração a partir de backups limpos.
Exemplo de Playbook - Conta de E-mail Comprometida (Phishing):
Ação Imediata: Forçar a redefinição da senha do usuário afetado.
Segurança: Habilitar a Autenticação Multifator (MFA) para a conta, se ainda não estiver ativa.
Análise: O Técnico Principal investiga os e-mails enviados e recebidos pela conta comprometida para identificar o escopo do dano (outros e-mails de phishing enviados, dados exportados, etc.).
Contenção: Revogar todas as sessões ativas do usuário.
Erradicação: Procurar por regras de encaminhamento maliciosas ou outros mecanismos de persistência na caixa de correio.
Comunicação: Informar o usuário e, dependendo do que foi encontrado na análise, escalar para o Líder do Incidente.
Passo 4: Documente e Armazene o Plano de Forma Segura e Acessível
Seu PRI finalizado é inútil se ninguém conseguir encontrá-lo durante uma crise. O plano deve ser armazenado em múltiplos locais. Mantenha cópias digitais em um local seguro na nuvem (como um Google Drive ou OneDrive dedicado, com acesso restrito), garantindo que ele não esteja apenas na rede local que pode ser comprometida. Mais importante ainda: imprima cópias físicas. Entregue uma para cada membro da equipe de resposta e guarde outras em locais estratégicos, como a sala do servidor e um escritório externo, se houver. A equipe deve saber exatamente onde procurar o plano quando a pressão aumentar.
Mantendo seu Plano Vivo: Um Documento Dinâmico
Criar a primeira versão do seu PRI é um marco fundamental, mas o trabalho não termina aí. A tecnologia muda, as ameaças evoluem e sua empresa cresce. Um plano estático rapidamente se torna obsoleto e ineficaz. Para que ele continue sendo uma ferramenta de salvação e não apenas um documento empoeirado na prateleira, ele precisa ser tratado como um organismo vivo, que requer nutrição e exercício.
A Importância das Simulações e Exercícios
Ler um plano é uma coisa; executá-lo sob pressão é outra completamente diferente. A única maneira de testar verdadeiramente a eficácia do seu PRI e a prontidão da sua equipe é através de simulações. Para PMEs, o método mais eficaz e de baixo custo é o "tabletop exercise" ou exercício de mesa. Funciona assim: reúna a equipe de resposta em uma sala, apresente um cenário de incidente hipotético (ex: "O servidor financeiro foi criptografado por ransomware. O que fazemos agora?"), e discuta os passos que seriam tomados, seguindo o PRI.
Esses exercícios revelam rapidamente as lacunas no plano: um contato de emergência desatualizado, um passo pouco claro no playbook, ou uma confusão sobre quem toma qual decisão. Eles são ambientes seguros para falhar, permitindo que você corrija os problemas antes que eles ocorram em um incidente real.
Revisão e Atualização: Quando e Como Fazer
Seu PRI deve ter uma data de revisão agendada. Uma boa prática é revisá-lo formalmente pelo menos uma vez por ano. Além da revisão anual, o plano deve ser atualizado sempre que ocorrerem mudanças significativas no ambiente de negócios ou de tecnologia. Isso inclui a implementação de um novo sistema de ERP, a migração de serviços para a nuvem, ou mudanças na composição da equipe de resposta. E, mais crucialmente, o plano deve ser revisto e atualizado após todo e qualquer incidente real, por menor que seja, incorporando as lições aprendidas durante o evento.
Conclusão
Voltando à história da Alfa Inovações. O caos que eles enfrentaram não foi causado pelo ransomware em si. Foi causado pela ausência de um mapa. O pânico, as decisões erradas e a paralisia foram sintomas de uma única doença: a falta de preparação. Um Plano de Resposta a Incidentes é o antídoto.
Ele é a estrutura que transforma o caos paralisante de um ataque em um processo de gestão de crise calmo e controlado. Ele fornece as respostas para as perguntas mais assustadoras antes mesmo que elas precisem ser feitas em desespero.
A realidade para toda empresa, grande ou pequena, é que a questão não é mais "se" um incidente de segurança vai ocorrer, mas "quando". Encarar essa verdade não é ser pessimista; é ser proativo. A preparação não é um custo afundado em um problema hipotético; é um investimento direto na resiliência, na continuidade e na própria sobrevivência do seu negócio.
Este guia ofereceu a você um modelo prático e os passos fundamentais para começar. Use-o. Dê o primeiro passo hoje mesmo. Reúna sua equipe, comece a mapear seus ativos e desenhe seus primeiros playbooks. O caminho da reatividade para a proatividade começa com essa decisão.
E lembre-se, para navegar por cenários mais complexos, para validar seu plano ou para ter especialistas ao seu lado quando a crise chegar, a expertise de uma consultoria como a RG Cibersegurança pode ser o farol que guia sua empresa da tempestade de volta para o porto seguro.
Recursos Adicionais e Leitura Recomendada
NIST (National Institute of Standards and Technology): As publicações especiais do NIST, como a SP 800-61 ("Computer Security Incident Handling Guide"), são a referência global para a criação de frameworks de resposta a incidentes e oferecem uma visão aprofundada das melhores práticas.
SANS Institute: Reconhecido mundialmente por seus treinamentos e certificações em cibersegurança, o SANS oferece diversos recursos, incluindo um modelo de handbook para resposta a incidentes que serviu de inspiração para muitas das estruturas utilizadas hoje.
CIS (Center for Internet Security): O CIS oferece os "CIS Controls", um conjunto priorizado de ações de defesa cibernética. Seus guias fornecem um excelente ponto de partida para a fase de "Preparação", ajudando as empresas a fortalecerem sua segurança de base.
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